Who Farted? - O Blog.

O Who Farted é meu blog infame de conteúdo absolutamente pessoal e intransferível, no qual publico pequenos pensamentos de filosofia nonsense de boteco e pequenas fantasias de realidade fantástica (ficção), reflexões insanas e fartológicas.

Aqui solto meus fantasmas e exponho livres pontos de vista sobre um universo maluco que me cerca.

Who Farted é meu psicanalista, meu diário, minha carta aberta a meus amigos e amigas.

08 julho 2011

La Vida Loca



Talvez você também tenha pego na Sessão Corujão da Rede Grobo de Telebizonhos por estes dias, um filme chamado Tudo Por Dinheiro (Two For The Money), com Al Pacino.

Filminho interessante, adequado à madrugada. Melhor que dormir. Do tipo que se não é uma obra digna de 7 Oscars, pois não tem cena de gritos na chuva nem atores em papéis excêntricos, pelo menos traz uma discussão instigante sobre o tema jogo (gambling).

Gosto de opiniões controversas sobre temas tabu, daquele tipo que a sociedade gosta de isolar no quarto dos fundos, como se fosse aquela tia louca a quem todos querem esconder e até mesmo citar seu nome seria agressivo à família.

Tipo... Joguem os pedófilos na forca, os drogados na cadeia e salvem as baleias e os ciclistas.

E falando de vício por jogo, um dos antipanteões da família católica, o cabinha do filme fala: “Você não joga porque acha que vai ganhar. Você joga pra perder, e assim se sentir vivo, pois gosta da sensação de estar no fundo do poço.”

Isto, claro, é mera psicologia.

Mas uma coisa é você ler um livro de teorias e outra é se deparar com essa realidade em um filme comercial, que de alguma forma te faz buscar situações semelhantes na sua vida.

Ainda me lembro de forma peculiar de quando eu era moleque e tive de deixar um daqueles apartamentões em bairo nobre com minha família arrancando os cabelos para morar num pequeno apartamento, devido a uma ordem de despejo gerada por um negócio que deu errado e tinha o tal imóvel como garantia.

Também, ainda guardo boas memórias da primeira vez que me vi levando corno de mulher.

Em ambos os casos, tudo deu certo no final.

Mas também em ambos os casos, apesar da situação extremamente negativa, a primeira sensação que tenho na memória não foi exatamente ruim, após concretizadas as primeiras consequências.

Estas e outras situações ruins que eu, como todo mundo que conheço, um dia tive de enfrentar na minha vida comum, me fizeram sentir vivo. Eu quase tinha orgulho de dizer que havia passado por tais experiências.

Há um certo feeling de liberdade em se perder algo que te toma grande parte de suas preocupações diárias. É como arrancar um dente que dói – e esta experiência, eu ainda não tive, mas posso imaginar.

O ser humano tem, por instinto, a necessidade de enfrentar desafios, resolver problemas, como quem estivesse numa selva a caçar um preá, ou um macaco, para sanar a fome daquele dia, e é fato notório que estar em uma posição confortável vai contra este instinto, trazendo um certo desconforto, uma vontade de dar um murro na parede, o tal do stress.

A sociedade (eita) ocidental é contraditória, pois o grande desafio do ser humano moderno é buscar a estabilidade financeira e emocional. O cara se estressa porque não está conseguindo, e quando consegue se estressa porque se sente preso às obrigações de manutenção.

Ralar para comprar um carro importado pode ser bastante desafiador para alguns, mas, se depois de conseguir esta façanha seu foco se voltar para a manutenção deste carro, o cara entra em crise. Pra se sentir vivo é preciso querer comprar o segundo, e o terceiro.

Por isto, nada deixa o homem animal mais acuado do que ter um bom casamento, um bom emprego, um apartamento para pagar o condomínio todo mês. É um eterno jogo de manutenção, em guerra com o instinto de conquista.

Quando tudo dá certo na vida, quando as coisas vêm fáceis, tudo perde o brilho.

Perder tudo, em contrapartida, abre os horizontes, pois deixa claro que você está exposto à derrota assim como qualquer um. Uma derrota legitima uma vitória, pois só faz sentido ganhar, se ganhar for um desafio.

Não ter nada significa que tudo é possível.

Ter algo significa repetir ações constantes para continuar a ter apenas o que já se tem. É trabalhar sem receber.

E é uma verdade incontestável que só se pode ganhar algo e se sentir vivo se você estiver disposto a perder aquilo que deseja e souber que perder é uma possibilidade real.

Quem não está disposto a perder, a jogar, vive cultivando sonhos não realizados, pois perder não significa apenas perder o objeto de desejo, mas o próprio sonho.

Todos precisamos de um adversário.

Na maioria das vezes, o adversário é o simples destino, o caminho natural do trem se você não criar os desvios.

A vida é um instigante jogo de azar. E é um vício por si só.

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