Who Farted? - O Blog.

O Who Farted é meu blog infame de conteúdo absolutamente pessoal e intransferível, no qual publico pequenos pensamentos de filosofia nonsense de boteco e pequenas fantasias de realidade fantástica (ficção), reflexões insanas e fartológicas.

Aqui solto meus fantasmas e exponho livres pontos de vista sobre um universo maluco que me cerca.

Who Farted é meu psicanalista, meu diário, minha carta aberta a meus amigos e amigas.

21 janeiro 2011

Covardia Num Ônibus Em Movimento


A covardia de quem solta pum em ônibus em movimento é equiparável à de quem solta pum em público sem fazer barulho – aquele que faz barulho dá a chance aos chegados de pelo menos fechar o nariz.

Estas coisas deveriam estar no livro Etiqueta Sem Frescuras, da Claudia Matarazzo (fica a dica):

“Pum social pode. Mas só é aceitável com um leve sussurrar de nádegas, para alertar os presentes. Não exagere no barulho, não é educado. Apenas o suficiente para informar que vem bomba por aí.”

Um dos mais importantes momentos do ritual de cultura fartológica é aquele em que as pessoas se perguntam “quem foi?”, “quem peidou?”, ou “Who Farted?”.

É que nem gol no futebol! - queremos nomes.

Sim, é importante. Não que alguém vá ser execrado da sociedade brasileira por peidar em público, mas é importante que pelo menos se deem chances aos mais conectados com as energias cósmicas de saber quem foi o autor da instalação.

Veja bem. Por isto mesmo, se considera “clássico” o pum de elevador.

Pum em elevador é chic, pois propõe imediatamente a união do grupo e rápida discussão social.

Quantas pessoas existem dentro de um elevador? Umas 8 a 10 nas hipóteses mais extremas, se estiver em um edifício do poder público, ou de um hospital.

Quer o yellow hand solte com ou sem barulho, a gente calcula pela cara de quem tá ali, e as possibilidades geralmente se fecham entre uma ou duas pessoas no máximo – é fácil pegar o culpado e lhe devolver aquele olhar de ódio por fazê-lo passar por aquele momento desnecessário.

Pois bem. Como eu falava no começo deste post, ônibus é sagrado – não é fair play.

Um latão em movimento retilíneo uniforme (MRU) permite que uma pessoa que solte um pum lá na frente, tenha seu momento de inspiração divina rapidamente arremessado contra a janela do fundo do veículo, e posto em circulação geral pela corrente de ar que fica fazendo voltas ali dentro, num redemoinho constante.

Se você está ali atrás e sente o cheiro, olha pra frente e vê umas 87 pessoas sentadas com a bunda virada para seu lado, e isto torna praticamente impossível, a solução do enigma.

Por outro lado, se você soltar lá no fundo, o cheiro se espalha pela frente, e todo mundo fica imaginando que foi o motorista, mas o cheiro impregnou geral.

Será que ninguém se toca desta sacanagem?

Nestes casos aúnica solução é todo mundo sair rapidamente para as áreas externas do veículo (foto ao alto deste post - um pum num ônibus de Jaboatão dos Guararapes)

Depois falam do mal cheiro do ar de Recife em alguns lugares...

Sinceramente, eu acho que esse povo anda é comendo muita macaxeira com charque de jumento.

O que eu falei sobre fidelidade há alguns dias? É isso que eu digo.

Tremenda falta de sem noção.

(Ah, você não pega ônibus? Se liga no aquecimento global e nas blitz da madrugada, borrabotas!)

Mas pum, é fowda... Assim também não dá.

20 janeiro 2011

Como Ser Um Peixe Grande



A vida é a arte da competição.

Contraditório, quando penso que não temos direito de matar uma barata (salvo se quisermos comê-la). Ainda menos um rato, pelo simples motivo de que nos parece mais feroz do que nós mesmos, ao invadir nosso espaço com movimentos que nos surpreendem, caindo em nossas iscas insconscientes.

Coma rato se quiser matá-los.

O restaurante chinês que eu tanto gostava e frequentava (o trema acabou) diariamente foi lacrado pela Vigilância Sanitária - será que estavam levando minhas insanas reflexões a sério?

Um homem do sexo masculino ao olhar uma bela mulher com belos peitos, começa imediatamente a escanear suas possíveis qualidades intelectuais que justifiquem socialmente sua aproximação.

Basta cantar razoavelmente afinado para ser uma Bili Rólidei, basta ter feito uma faculdade de biblioteconomia para ser considerada uma possível criadora do próximo Facebook.

E por falar em Facebook, alguém aí se lembra que o Orkut foi lançado numa explosão mundial de viralidade, um mês antes da mais energúmena versão do Facebook ser colocada no ar?

O Orkut só foi abandonado pelos americanos, pois eles não queriam se misturar aos cucarachas que falavam português.

Mas história é história. O criador não foi americano, a ideia principal já existia em sites como Friendster e Myspace, mas a lógica que fez o sucesso do facebook foi criada por esse norueguês chamado Orkut.

Quem vai fazer um filme contando a história dele? Daniel Filho?

Mas voltando ao assunto, a mulher, por sua vez, ao encontrar um competente profissional de tecnologia de informação, bem sucedido e com, digamos, um carrinho ajeitado, começa logo a imaginar cabelo em sua careca, e elimina mentalmente alguns centímetros de sua barriga - e dependendo das qualificações bancárias e hierárquicas, o cara pode chegar a se parecer com o Tom Cruise, em sua fértil imaginação.

O sistema encontrado pelo arquiteto para fazer da vida algo possível em um universo de condições adversas e mutantes, foi a lei do mais forte.

É mera programação de computador, e te explico fácil a vida em lógica genérica de programação, substituindo a REDE por RANDOMS para encurtar a história:

BEGIN LOOP

IF X>Y { FV=X}
ELSE {FV=Y}
FV=FV1

Q=(peitinhos)

IF Q(W) > Q(Z) { VD=Q(W) }
ELSE {VD=Q(Z)}

NFV = (FV + VD)/2

NFV2=RANDOM (R(Q)>VD(Q))

X= NFV

W=NFV2

Y=RANDOM(R(N)>Y(N))

Z=RANDOM (R(Q)>VD(Q))

END LOOP

O mais forte come o mais fraco. Isso vale dentro de uma cela de prisão com 27 condenados espremidos sem mulher, e vale no fundo do mar onde a tilápia come a piaba, e o tubarão come a tilápia.

Se estivermos assim largados no mar, o tubarão como o homem. Mas se o homem tiver tempo de planejar, come vários tubarões (faz sopa de barbatana).

Não tenha medo. O mais forte, quando ameaçado, vai sempre derrubar o mais fraco.

E pisar. (que porra é essa no Big Brother, hein?)

Então, quando for mais forte, pise.

Seja homem, mulher, rato, barata ou preá. Não é possível fugir desta lei universal.

E Deus quis assim. A natureza humana é a mesma animal e vegetal. É desumano, mas é necessária.

No final, a existência sempre ganha e sai fortalecida.

O filósofo Chico Lexis, já dizia em sua sabedoria que:

"Escova de dente também escova sapato, se necessário."

Chocolate com Coca-Cola de madrugada dá nisso.

E como se diz em italiano, Dali Senza.

17 janeiro 2011

Falando de Alta-Fidelidade


Me parece que sempre que se levanta a lebre da "fidelidade", o que aparece é a questão do... corno.

Mas como grande estudioso do assunto "corno", acabei descobrindo aleatoriamente que a falta de fidelidade que eleva o ser normal ao estado de corno (ou corneador) é algo maior e mais filosófico do que simplesmente pegar a mulher dando bola (e o resto também) para outro cara, ou pegar a mulher de outro cara.

Fidelidade é uma questão de personalidade.

É uma questão de valores, filosofia.

Uma pessoa pode ser fiel e ainda assim sair com outras pessoas que não sejam seu namorado ou namorada, marido ou mulher.

O verdadeiro infiel é aquele que diz "eu te amo", e poucos dias depois renega esta afirmação.

É aquele que diz "confie em mim" e horas depois faz algo que lhe deixa mal.

É quem diz "sou teu amigo" e não te oferece respeito.

Seria mais fácil nunca expressar aquilo que não sente. Isso seria fidelidade.

Digo... Se você diz aquilo que realmente sente, e presta atenção naquilo que realmente sente, e também nunca espera de alguém aquilo que ele não prometeu, jamais será infiel.

A infidelidade não é apenas uma questão de relacionamento com outras pessoas. Quem é infiel geralmente é infiel a si mesmo, ainda que isto venha a afetar outras pessoas.

Isto na verdade é uma conclusão que venho tendo por mim mesmo.

Uma daquelas verdades clichês que sempre sabemos, mas nem sempre tomamos por verdade absoluta, até o dia em que nos olhamos no espelho e vemos como funciona na prática em nossas próprias vidas.

Já faz alguns anos, isto não é de hoje, venho buscando ser fiel a mim mesmo.

Antes eu tentava mostrar ao mundo o quanto eu era caótico e irreverente em minha vida pessoal, e extremamente organizado e metódico em minha vida profissional.

Hoje, já não tenho problemas em demonstrar o quanto sou caótico e irreverente em minha vida profissional, e absolutamente organizado e metódico em minha vida pessoal.

Sempre se espantam quando espero fidelidade.

Se tudo de ruim que fazemos ao universo volta para nós, porque mesmo as coisas boas não deveriam voltar?

Sempre fui e agi de acordo com o que me propus.

Sim, fidelidade é algo muito difícil de ser entendido.

Mas acredito em algo engraçado: fidelidade pode salvar a humanidade.

Se existe um valor a ser salvo neste caos em que vivemos, esta seria uma boa escolha.

Olhe para as pessoas e ouça o que elas dizem de verdade para você. Não espere mais do que isto. Não prometa ser mais do que pode ser.

Como diria o guru Hamish Del Fuego de Ping Ha:

"Eita."

Uma Questão de Bilau (2) e Cinema


Juro que ri bastante todas as vezes que assisti um de meus filmes preferidos, There's Something About Mary (Quem Vai Ficar Com Mary), naquela cena do começo em que o moleque fecha o ziper da calça no bilau (*pinto) e o treco ficava tão enganchado que não conseguia sair, e teve que chamar ambulância, bombeiro, padre e tudo mais.

Sim, meus caros amigos. Muito engraçado, até que acontece com a gente.

Sim, isso mesmo. Só faltou vir ambulância e bombeiro. Nunca imaginei que zipers poderiam causar tamanho estrago. O treco é sério mesmo.

Demorou quase meia-hora para resolver minha situação, o que é uma eternidade pra quem está enganchado lembrando de Quem Vai Ficar Com Mary, mas enfim saí salvo, ainda que um tanto insano - ufa!

A vida imita a arte. A vida imita Marte. Mas vamos esquecer este fato, ok? Sem "RTs" nem "Likes".

Este foi apenas um post de utilidade pública, sugerindo a meus amigos que tomem cuidado redobrado com seus zipers.

Ah, claro... Deixa eu reforçar um ponto importante: mulheres, tomem cuidado também, quando manusearem zipers dos caras que estão com vocês.

Lembrem-se de que todos nós homens costumamos frequentar cursos secretos a respeito de como operar presilhas de sutiãs quando entramos na adolescência, e alguns de nós fazem cursos de reciclagem depois de adultos, inclusive.

Vocês deveriam fazer algo semelhante no que se refere ao ziper de calça jeans masculina (só uma sugestão).

Mudando de assunto...

Já que estou falando de cinema, tenho uma excelente dica de filme idiota para dar aos meus caros leitores mais bobos.

Se você tem mais de 35 talvez se lembre do seriado "O Elo Perdido" que passava todos os dias na Globo, depois de Sessão da Tarde, nos anos 80 - aquele do Chaka, Holly, Sleestacks.

Pois bem, em 2009, lançaram um remake, um filme baseado na série, que se chama... Hmmm... "O Elo Perdido" (Land Of The Lost, se você vai baixar em Torrent ou similar).

Já digo logo que não se trata de uma versão fiel ao original. É mais uma comédia em homenagem, uma paródia. Parecido com o que fizeram com "As Panteras".

É muito bobo, ridículo e hilariante, como um filme deve ser. E dá pra matar a saudade legal da série.

O Chaka é uma figuraça, e o T-Rex nem se fala...

Mas claro, se você quiser ver a original, veja a original. Nunca farão melhor. Tem a maioria dos episódios no Youtube.

Divirta-se! Filme tem de ser divertido. Se eu quiser ver algo sério e muito inteligente, me olho no espelho.

P.S.: "Ziper ou Zipper?"

06 janeiro 2011

Uma Questão de Bilau


Televisão de madrugada é realmente inspirador. Mais ainda, as discussões sobre sexo no programa do Serginho Groisman, com participação do sertanejo Leonardo.

Eu não viveria sem isso.

E lá vem papo de tamanho de bilau, e lá vem aquela bobagem de dizer que o que importa é a mágica que a varinha faz, blah, blah e blah.

Tudo besteira.

Deixa que eu te explico como funciona isso tudo de verdade.

Tido erroneamente como uma conversa de cunho masculino, tamanho de bilaulocêcia masculina me parece ser mais papo de mulher do que de homem.

Eu não me imagino numa tarde chuvosa de Domingo tomando vinho de cuecas com amigos e perguntando a eles “e aí, quanto mede seu pinto?”.

Mulheres, não. Uma das mais novas modas entre as poucas mulheres que ainda se propõem a gostar de bilauladas na moleira é discutir o tamanho do que viram passar por dentro delas na noite passada.

É tipo jogo do Trunfo – tá lembrado daquele joguinho de cartas que vinham com a foto de um carro e suas características técnicas listadas, e ganhava na mesa quem apresentasse o carro com motor mais potente?

Então...

A menina tá ali no banheiro, sentada no trono, conversando com a outra que tá depilando a perereca, e uma diz que o dela media 35 centímetros, e a outra a partir deste momento precisa correr atrás desta meta para ganhar na próxima partida de Trunfo, sem mentir.

Levando-se em consideração que, de acordo com as revistas femininas, menos de um pentelhésimo de porcento das mulheres consegue ter orgasmos verdadeiros, sendo que parte delas nem se quer saberia dizer se teve ou não um orgasmo durante a vida inteira e precisa ler livros explicativos sobre como atingir seu clímax, é de se considerar que elas precisem mesmo arranjar o que fazer enquanto nós homens estamos ali em cima delas, ou atrás, ou do lado, ou embaixo, ou na frente de pé... Enfim, você me compreende – e ficar medindo o tamanho do pirulito do cara deve ser mesmo um bom passatempo para elas enquanto a gente se diverte.

Só sei que a moda agora é essa (além daquela de dizer que preferem ficar com mulher) - E como discutir moda com mulheres?

O fato é que, pelo menos tirando por mim, medir a bilaucentrimentice do bilau deve ser uma tarefa árdua para elas, já que o cara costuma se recolher completamente quando não está em posição de trabalho (parece um hamster entocado).

Num dia frio, ou após uma discussão de relação, eu apostaria nuns três bilaucímetros e meio, no máaaaximo.

Já de frente a uma bela moçoila de movimentos devassaladoramente instigantes e bundinha animada, já houve relatos de quem o tenha visto (ou não) com incríveis 43 bilaucímetros e trinta decibilaumímetros, isso sem contar a parte que fica escondida no golpe visual – dispenso maiores explicações sobre a minha sexy anatomia.

Ou seja, tamanho de bilau, com exceção do ator que inspirou o filme Boogie Nights, é diretamente proporcional à natureza artística e filosófica da bunda em questão e da temperatura ambiente.

Mas agora, tá... Vamos à questão crucial:

“Bilaucímetros a mais ou a menos fazem diferença na hora do vamo ver?”

Isso, caras moçoilas, só testando – mas posso facilmente, e sem segundas intenções, ajudá-las a descobrir.

Simbora! A gente começa a conversa ao meio-dia num chatêau à beira-mar sem ar-condicionado debaixo do verão de Olinda, e termina esse papo tosco sob 10 graus de ar-condicionado no La Paix De Deux.

De repente rola até um sentimento curioso, porque não?

Ok, vou parar de ver televisão de madrugada. Juro.

02 janeiro 2011

Pensando 2011



Desta vez, não citarei filósofos obscuros.

"Ninguém pode estar errado por ser o que é, e apenas o que é, sem consertos nem remendos, nem mesmo melhorias."

"Cada um recebe do universo não aquilo merece, mas aquilo que é bom para si."

"Sempre que tentarmos buscar para nós mesmos aquilo que é bom para outras pessoas, seremos infelizes."

Este novo ano me traz pelo menos uma mudança radical de vida: este é o ano em que faço 40 anos.

O que isto significa para cada um, muda de pessoa para pessoa. Para mim, fazer 40 anos é o deadline para sair a fase Beta e enfim, tentar ser o melhor de mim mesmo.

Isto é ruim? Duvido.

Tudo pode acontecer, velhinho... Sempre.

Aos quase 40, me conheço mais do que nunca, e gosto de mim mais do que nunca.

Gosto de às vezes ser estranho, gosto de ser admirado e invejado, às vezes rejeitado pelos que de alguma forma me temem. E gosto também de ser amado.

Não tenho defeitos, mas não agrado a todo mundo com estas qualidades que tenho.

Eu, como quase todo mundo no mundo, por vezes amo quem não me ama, e por vezes sou amado por quem não amo. É um jogo sempre justo, e sempre traz resultados positivos.

Sou um cara romântico, apesar das aparências.

Não sei se sou justo com todas as pessoas, mas me orgulho de minha generosidade, quando posso usá-la.

Gosto do carinha que vejo no espelho.

Gosto de ser apenas lindão o bastante para atrair as meninas certas.

Eu poderia ter mais, se apostasse no superficial, mas prefiro assim.

Dinheiro, pra mim, tem uma importância menor do que para a maioria das pessoas com quem convivo. Sempre sei como ganhá-lo, sempre o tenho guardado, mas não dedico muito de minhas atitudes para isto.

Pois é, caros leitores do Who Farted, são dias de reflexão, após 40 anos que levei para entender mais a mim mesmo.

Mas tá... Não vou mentir. Muitas das coisas que digo, assim como todo mundo,são apenas coisas em que quero acreditar.

O jogo continua justo. Sempre justo, não precisa me invejar por nada.

Minha vida não é mais perfeita que a sua. Ela é a vida boa para mim.

Meus desejos e planos para 2011 incluem a continuidade de meu projeto pessoal para ajustar o mundo à minha volta às minhas qualidades pessoais.

Não prometo fazer uma dieta rigorosa, mas vou continuar na boa intenção de perder alguns quilinhos.

Neste ano, prometo a mim mesmo que apenas aceitarei para mim, aquilo que for bom para mim.

E prometo mais. Mas isto, fica apenas pra mim.

Bom 2011 para todos.

01 janeiro 2011

Ainda, Ainda Mais dos Anos 80



Como morador dos anos 80, não parecia naquele tempo que o Rock brasileiro feito na época seria completamente incompreendido pelas gerações seguintes.

Sempre é estranho, me repetindo aqui neste blog, quando alguém conecta a cultura dos anos 80 apenas à cena Cassino do Chacrinha.

Poucos (ainda que o façam) param pra lembrar, pelo menos, que na época tínhamos o Perdidos na Noite, programa underground apresentado pelo Faustão nas madrugadas da Bandeirantes, que tinha uma audiência tão grande, que acabou o levando para assumir esta posição estranha em que se encontra até hoje, aos Domingos na Globo.

Temos de lembrar que o Faustão era genial e leve... Era a referência da contracultura da época.

E no Perdidos na Noite, surgiam bandas como Ultraje a Rigor, Zero, Gang 90 (se eu não estiver enganado).

Também, em SP tinha a TV MIX, já pelo final dos 80 início dos 90, uma espécie de pré-MTV, que tomava todo o tempo da TV Gazeta com uma programação ao mesmo tempo tosca e criativa, comandada por Astrid (aquela da MTV) e Serginho Groisman, no qual se via em começo de carreira gente como Lenine e Sepultura.

Veja este video com a história completa da coisa.

Nos anos 80, tínhamos a sorte (pelo menos em SP) de ouvir nas rádios um montão de Rock bom. E tivemos o Rock'n'Rio, na cidade vizinha!

Sucesso de FM naquela época era Yes, Van Hallen, Paul McCartney, Tina Turner, Direstraits...ôooaaaa... Bora parar por aqui pra não humilhar.

Mas fazer Rock no Brasil era algo estranho, pois importar uma guitarra Fender era crime federal. Para ter instrumento de qualidade era necessário pagar um contrabandista, e tomar cuidado para que ao tocar, a polícia não prendesse tua guitarra, teu baixo (mas isso nunca acontecia).

Os instrumentos brasileiros eram caros e ruins.

Estávamos saindo lentamente de uma ditadura à brasileira, do tipo que faz generais serem fãs e amigos de caras como Caetano e Gil, mas ao mesmo tempo mandá-los para a tortura caso falassem merda.

As letras a que estávamos acostumados (na MPB) eram letras engajadas. Os sons, muito carregados, muito tensos, politizados, sempre com jeitão de quem estava dizendo algo muito importante de forma subliminar.

Quando o Rock ressurgiu no Brasil, foi como um grito de liberdade estética e contextual.

Era como dizer "vamos tirar umas férias pra curtir e falar da vida do nosso jeito!".

Mas não se engane, rock brasileiro dos anos 80 era ácido e crítico. Assim como os sisudos MPBistas, a molecada da época contestava tudo e todos. Mas traziam uma inteligência mais refinada, uptodate, nas letras e nos conceitos de estética.

Imagina que nos anos 80 o maior hit do Rock, ainda em plena ditadura era "Inútil" do Ultraje a Rigor, que na época vendeu mais que Roberto Carlos e falava que "a gente não sabemos escolher presidente, a gente não consegue tomar conta da gente, a gente somos inútil", numa crítica clara a um governo que não deixava o povo ir às eleições, como se a população fosse burra de mais para isto e precisasse da proteção de um estado militar.

Naquele tempo não se falava de "Naturieza" e "Faviela". Os temas eram existencialistas, discutiam o mundo a partir de aspectos psicológicos e tirações cínicas da vida cotidiana, liberdade cultural.

Musicalmente, os anos 80 eram como os anos 70, só que com uma liberdade musical ilimitada, e novas possibilidades de recursos de gravação e instrumentação. Você podia ser leve ou pesado, podia ser bluesy ou completamente frio, podia ser alegrinho ou tristinho.

No exterior, aconteciam na mesma época AC/DC e Sex Pistols, Depeche Mode e Stray Cats, Cindy Lauper e DEVO. No Brasil, não era diferente.

A segunda metade da década também teve uma cena independente forte, que tocava nas rádios.

Artistas como a moçada da cena de brasília (Paralamas, Legião, Capital Inicial, Plebe Rude), todas bandas extremamente contestadoras se comparados aos padrões atuais, eram estupidamente influenciadas pelas bandas da cena paulista independente, gente como Voluntários da Pátria, Zero, Finis Africae, Violeta de Outono, Cabine C.

O Capital Inicial chegou mesmo a gravar a música "Fátima" do Finis Africae em seu disco de estreia.

Nesta época, enquanto a TV Globo dava bastante cartaz para a cena carioca (Lulu Santos, Barão Vermelho, etc), o Brasil fervia pelos undergrounds com vinis gravados com dinheiro juntado em shows, e vendidos nas galerias do rock (como em SP na 24 de Maio, onde também ficava a sede da gravadora independente Baratos Afins).

Considere o fato de que na época não havia Internet para divulgar bandas, gravar era uma tarefa bem mais cara e analógica do que nos dias de hoje, e divulgar era uma tarefa árdua, que por vezes avançava pelo mainstream, como quando se conseguiam críticas de discos independentes em plena revista BIZZ.

Era também o começo das produções caseiras, que na época aconteciam com equipamentos state of art: Gravadores da marca Tascam que conseguiam dividir uma fita cassete caseira em até 16 pistas (pasmem!), mas que com qualidade mesmo a gente só podia apostar nos de 4 pistas.

Eram os chamados Home Studios.

A banda paulista Fellini (video acima) gravou uns 3 discos em casa, desta forma.

E tinha gente que fazia milagres com estes equipamentos e tiravam gravações muito profissionais, equiparadas aos grandes estúdios.

Ah... Mas falei que não tinha Internet, nem Myspace, nem CD-Rs?

Pois é... Pra divulgar, tinha que levar uma fita de rolo de 1/4 de polegada para as rádios que abriam espaço, e mandar fazer um montão de fitinhas cassete (as famosas Fitas Demo). Custava bem mais caro do que hoje.

Em São Paulo, quem tocava as fitas demo era a rádio 89FM, e a Brasil 2000, mas também surgiam pequenos espaços na Jovem Pan, Transamérica e Universitária. No Rio, tinha a Fluminense e mais duas rádios também que esqueci o nome.

Mas dito tudo isto, é preciso dizer que na época se fez muita música boa, e que havia bandas de todo o Brasil fazendo uma música instigante e contestadora, algumas vezes cheias de um humor jocoso próprio da época (como Gang 90) que dificilmente seria compreendido hoje em dia, outras mais diretas e agressivas como o De Falla (RS), que já se parecia bastante com o Rock mundial, tinha jeitão de banda gringa.

As gravações muitas vezes eram toscas, usavam recursos novos para a época como a gravação de trilhas em MIDI (uma faixa que você gravava na fita, e quando tocada controlava uma série de teclados e drum machines sincronizados com faixas gravadas ao vivo, que podiam ser "gravados digitalmente", tocados manualmente e registrados por informações binárias, como se fosse uma caixinha de música, mas sem a inclusão da dinâmica do toque, força, dada em cada tecla ou peça de bateria) ou podiam ser simplesmente programados em planilhas eletrônicas e sequencers embutidos em cada equipamento.

O resultado, utilizando estes primeiros equipamentos era bem frio. Sem a emoção do músico. Ou você usava isso como parte de sua música (a frieza), ou tentava gravar com instrumentos normais, e apostava numa gravação mais fraquinha.

Estes recursos, muitas vezes, não eram usados por opção estética, mas porque era a forma de você gravar com qualidade melhor em Home Studios de 4 canais.

Explico.Você usava um canal pra a faixa MIDI que incluia tudo o que pudesse ser feito com sintetizadores, como baixo, teclados, bateria e percussão; e usava os outros 3 canais restantes para gravar guitarras e voz.

Quando tocado o master, toda a parte MIDI era tocada diretamente dos equipamentos (sintetizadores), e obtínhamos um resultado semelhante à gravação digital (sem ruídos) nestas faixas, compensando o extremo ruído das 3 faixas analógicas gravadas na fitinha cassete.

Ponha neste caldeirão de recursos as informações da cultura da época, coisas como sexo livre (e sem AIDS), culto à estética alternativa, a tendência ao experimentalismo.

Um dos maiores sucessos da Rede Globo era a série Armação Ilimitada, que quebrava os padrões estéticos da TV da época, e apresentava uma jornalista que dormia na cama com dois namorados surfistas (Juba e Lula) - e isto era voltado aos adolescentes. Era a nossa Malhação.

Claro, todas estas informações vêm apenas de minhas memórias, e podem ser encaixadas num espaço de tempo bastante grande, entre 1980 e 1988. Posso ter falhado em alguma contextualização, mas vale essa fotografia.

Agora, sabendo disto tudo que falei, tenta dar uma sacada nestes sons, e vê se consegue entender melhor...

São todas bandas que vêm sendo esquecidas pela mídia e pela história oficial da época.

Divirta-se! Este é o outro lado dos anos 80 no Brasil. Mas não se esqueça que na mesma época tínhamos o Ira, Ultraje, RPM, Titãs, etc.

Picassos Falsos
Violeta de Outono
DeFalla
Gueto
Gangue 90
Cabine C
Muzak
Finis Africae
Akira S e As Garotas Que Erraram
Vzyadoq Moe
Patife Band
Mercenárias
Os Replicantes
Coke-Luxe

Pesquise mais sobre cada um no Youtube, e sobre outras bandas da mesma época.