Há um mês, mais ou menos, você deve ter se perguntado:
"- Ué? cadê o Rico que nunca mais escreveu pra mim neste maravilhoso e impagável blog de conteúdo indispensável para a vida moderna?"
Neste dia, lá pelas 5 da madrugada eu estava no meio do sertão pernambucano, ao lado de um posto de gasolina que só vendia diesel (não, nenê... Não era uma loja de calças jeans importadas - o óleo... o óleo) e não tinha banheiro, junto com meu sócio, o maluco do Steve, tentando consertar um pneu estourado por uma cratera de patada de dinossauro bem no meio da estrada, depois de mais de 10 horas de viagem, uma pizza e algumas cervejas.
Uma semana depois, conversando com dois neurônios femininos que me contavam a respeito de uma rave em uma ilha que só tinha gente bonita de A para A++, eu me dei conta de que tinha estado na mais louca Rave diurna em que alguém poderia ter ido, ao som de música evangélica de kombi de som, sem energia elétrica, só gente impossível de se classificar em uma escala de beleza, dezenas de BMWs competindo pela estrada de terra seca com carroças puxadas a jegue.
Lá estávamos nós, dentro de um Pálio dourado que se esforçava para fazer o ar-condionado transformar 50º de calor em uma brisa que remotamente poderia lembrar um bafo fresco, se arrastando na estrada, logo atrás de uma destas carroças, com uma velha índia de chapéu e sombrinha negra, abraçada com uma linda indiazinha que ficava nos encarando e sorrindo como se achasse graça dos "homens-brancos-suados-e-ferrados-prestes-a-precisar-descer-do-carro-para-empurrar".
Em pouco tempo, percebemos que o ar-condicionado estava nos cozinhando aos poucos, no bafo, e resolvemos abrir as janelas.
Pois, é... Acreditem. Estávamos na abertura do Ouricuri da tribo Fulni-ô, em Águas Belas, sertão pernambucano, a convite do filho do pajé, para comer arroz feijão e fritas com refrigerante de uva em uma oca de alvenaria.
Aliás, por falar em comida, Águas Belas é uma das poucas cidades do mundo, onde se pode comer por apenas R$4,00, um cafê da manhã com bandeijão livre, sem balança, com carne, feijão, cuscuz, macaxeira, muito ovo frito, e por aí vai...
Na primeira vez que olhei, fiquei procurando as ocas....
De acordo com o índio, essa era a história real dos três porquinhos:
"- Índio fazia casa de palha, homem branco vinha e punha fogo. Daí, índio fazia casa de barro, o homem branco vinha e derrubava. Daí, índio falou pra funai ir para a P-Q-P (expressão indígena que significa Pitaque Queruake Piraquê), chamou uma construtora e mandou fazer um conjunto habitacional, com antenas parabólicas para assistir a novela das 8, porque assim a patroa passa uns 45 minutos calada de noite, e não tem homem branco macho que derrube este treco, principalmente se tiver de enfrenntar um bando de índio pelado e armado."
O Ouricuri é um retiro espiritual dos índios. Nesta época do ano, a tribo Fulni-ô, assim como todas as outras tribos do Brasil, cada uma em suas terras, se reúne toda para a festa. Vem índio até dos States, para a terra deles, em Águas Belas. Logo na entrada da aldeia, um aviso: "Aldeia indígena. Nem pense em entrar. Cai fora, mané!".
Dá medo mesmo, viu? :(
Enfim, nesta época, eles deixam sua aldeia normal de alvenaria, parabólicas e luz elétrica, e vão para o meio da mata, rezar por três meses, junto ao cacique e ao pajé.
Hoje em dia, na verdade, "a mata" é apenas uma outra aldeia de alvenaria, de casas menores, sem energia elétrica, onde eles passam estes três meses de reclusão, homens num lado, mulheres no outro, homens jogando dominó e mulheres limpando a poeira da casa. Ao final destes três meses, todas as mulheres ficam grávidas (hehehe brincadeirinha...).
Ah você me pergunta: E aí? Muito zen? O pajé reza? Como é isso?
Meu amigo, nunca vi tanto político, padre, pastor, juntos numa mesma festa, tentando angariar novos fiéis. É uma coisa muito doida mesmo.
Tem pouco espaço para a cultura deles. É muito hino evangélico, e cantoria de padre católico.
A maior impressão que ficou em mim, foi algo sutil, que talvez ninguém preste atenção mesmo: Ao ver aquela nação indígena se agrupando, ricos e pobres, índios de São Paulo, Rio, Nova York, Água Belas, alguns em roupas típicas, mas a maioria vestidos à paisana, eu vi rostos e expressões aos quais estou acostumados em meu dia-a-dia, nas ruas das cidades, nos shoppings, nos cinemas. E, na verdade, nunca havia me tocado de que esta raça, estes rostos, são os rostos dos índios, que fazem parte fundamental no blend da raça brasileira.
Ver uma nação indígena que ao mesmo tempo que é a única no Brasil que conseguiu registar a sua língua e sua cultura, mantendo-as intactas, e estão perfeitamente inseridos na cultura do país, me fez ter uma noção de quem somos, quem são os brasileiros, e de onde eles vêem.
Ah claro... Lá na aldeia do Ouricuri, não tinha Internet.
E pior... Como eu jamais imaginaria que veria as coisas que vi, da forma que vi, não levei câmera fotográfica.
Mas mesmo assim, trouxe muitas imagens comigo.
Depois eu conto mais.
:)) have fun, babies!
PS.: Se tem alguém que tá pouco se lixando para o beautiful people das baladas semi-nazistas e neo-lisérgicas que se espalham por este bra"Z"il zão que em tudo quer copiar o mundo civilizado, sou eu. E falo isto com conhecimento absoluto de causa. Whatever.... Gosto de lembrar isso vez em quanduuu... Pois podem, às vezes imaginar o contrário. ;)